Jovem é preso com cinquenta gramas de petismo no bolso

Caminho todos os dias pelos mesmos lugares, no melhor estilo pretinho básico: acordar-ponto-de-ônibus-ônibus-terminal-ônibus-trabalho-ponto-de-ônibus-ônibus-terminal-ônibus-finalmente-casa, sempre as mesmas calçadas, as mesmas pessoas, nos ônibus mudam alguns dos rostos mas os papos continuam os mesmos de ônibus, sobre a vizinha que fez sei lá o quê, uma outra no trabalho que acorda cedo só pra infernizar, o sem-vergonha puxa-saco de chefe, o jogo do Corinhians, salve o Corinthians, histórias que a boca conta pra esquecer que o dia será longo. No trabalho o mesmo calor de sempre, os ventiladores de enfeite girando em câmera-lenta, o dono da empresa que só aparece uma vez no mês e que quando dá as caras tem como hobby preferido procurar defeito, pensa num homem que adora um defeito um errinho, quando encontra é uma alegria, fala fala enche o saco daí sai pra almoçar. Trabalho numa distribuidora, os clientes de lá são, na maioria, o que podemos chamar de [me perdoem o vocabulário escasso, juro que leio o máximo que posso] pequeno-burgueses, donos de pequenos comércios que compram em média e por vezes maior escala materiais pra fazer seu serviço, revender et cetera, a turma que mais gritou MITO MITO, que entrava na loja aos berros rindo e rindo da Venezuela que a cada pesquisa ia mais pra longe do Brasil, e dos malditos médicos cubanos que foram arrancados dos buracos do Piauí pro pessoal poder morrer tranquilo. O capitão não vai perdoar, o Brasil agora vira homem. Nada escapa ao super-Moro e sua suprema convicção, o homem que manda grampear escritório de advocacia, fica em casa, alegre da vida, ouvindo papos pessoais da presidenta da república enquanto penteia seu belo topete pro jornal de mais tarde, manda buscar um ex-presidente sem antes ao menos convidá-lo prum chá, e prende o mesmo com a intensa certeza de que se ele usa cuecas, é dele!, afinal, se encontraram cuecas num apartamento e o presidente usa cuecas, só não enxerga o óbvio quem não quer (e também dizem que é dele, os santos delatores que nada têm a ganhar com isso bateram o martelo, embora não possamos chegar lá pra soltá-lo alegando o contrário), são do presidente o apartamento o sítio meu coração prende prende prende. Mas poder poder mesmo (do tipo Ben 10) tem a ponderada meritíssima se-começar-nesse-tom-comigo-a-gente-vai-ter-problema, ela e sua condenação acompanhada de “depoimentos prestados por colaboradores e co-réus Leo Pinheiro e José Adelmário”, ambos pasmem! a mesma pessoa. Luiz Inácio foi condenado “pelo recebimento de R$700 mil em vantagens indevidas da Odebrecht“, mesmo com a defesa provando, PROVANDO, a partir dum laudo pericial, com base na análise dum sistema paralelo de contabilidade da Odebrecht, que identificou o rumo do tal dinheiro como sendo prum executivo da empreiteira. Documento comprovado pelo próprio sistema da Odebrecht, que terminou no limbo sob a alegação de que “esta é uma análise contratada por parte da ação penal, buscando corroborar a tese defensiva”, ou seja, não adianta tentar se defender, eu tenho convicção. Mas disso não falam, ninguém entra na loja e diz que em qualquer lugar do mundo, grampear um escritório de advocacia é pedir pra morrer na cadeia. Grampear um escritório de advocacia, confesso que repito repito repito mas não entra na cabeça que grampearam um escritório de advocacia e não aconteceu nada. Imagine você, réu por qualquer coisa, vê lá um juíz que entrou no caso advogando uma sentença já pronta na cabeça, sai escutando tudo o que é conversa particular, conta pra todo mundo partes detalhadamente escolhidas a dedo, esconde o resto num baú (como por exemplo o Palocci tentando falar da Globo e do verdadeiro presidente do Brasil, o sistema financeiro, nossos santos bancos [que fizeram do PT gato e sapato, enriqueceram por quase duas décadas e agora jogam aos tubarões os coitadinhos que acreditaram em negociação – embora também tenham se deixado levar pelo poder, dinheiro em cima de dinheiro vinhos caros ternos maravilhosos enfim, sejamos francos], donos de emissoras de TV rádio, nosso dinheiro, jornais revistas, juízes promotores deputados senadores artistas e mais uma porrada de et cetera), e penteia o cabelo pra mais uma foto justiceira. Sabe de antemão o que a defesa planeja e ainda conta com os jornais amigos pra criminalizar os bárbaros, que geralmente usam vermelho e não Armani, peguem os de vermelho não se esqueçam, esses mortadelas que querem viver numa Venezuela, não querem estudar nem trabalhar só querem baderna suruba e drogas, e tudo subsidiado pelo governo, esses comunistas que na época da ditadura foram perseguidos tal qual como são agora, vê-se claramente sempre terroristas, criminosos petistas defensores de bandidos, abortistas maconheiros [usam muito massa-de-manobra também] na missão de implantar o comunismo na América-latina. Falam tanto da Venezuela (ou de evitar que os venezuelanos roubem nosso emprego) e nada do atual chanceler que nem tomar frente nas negociações pra deposição de Maduro tentou, não esboçou o menor movimento que não fosse ficar latindo no twitter, como se compartilhamento combatesse fome, deixou o Brasil como um pequeno, largou a grandeza do maior país da América do Sul lá com o ministro Amorim. Mas de gritos são bons. Moro na Justiça foi quase um Jesus está de volta. Aquela alegria, acabou corrupção, agora vai. Só esqueceram de combinar com o filhinho miliciano do presidente e seu vendedor de carros preferido inocentes lavando dinheiro. (Lembrando que o filhinho não foi depor e ninguém quis prendê-lo). Ou da tal Vidal, a gráfica da turma do PSL que recebeu em torno de um milhão e duzentos reais dos recursos de campanhas do partido. Um candidato encomendou duzentos mil santinhos e cem mil adesivos, uma brincadeira nada barata que lhe valeu dois mil votos. Outra gastou, na mesma gráfica, duzentos e trinta e três dos duzentos e cinquenta mil que recebeu do partido pra sua vitoriosa campanha de mil e tantos votos (o próprio Bolsa recebeu duzentos e sessenta e nove mil). E há ainda casos interessantes como o dum Major candidato a deputado federal que gastou mais do que recebeu, foram cinquenta e quatro mil pagos em santinhos e adesivos e uma receita de trinta mil via repasse do fundo especial de campanha, não foi eleito e ainda saiu devendo uma Coca-cola pro pessoal. E não vamos aqui entrar nos méritos do que diz nosso vice-presidente maluco, que parece gostar de ver o governo nessa “crise permanente”. Mas surpreende o silêncio, nos clientes e boa parte dos funcionários onde trabalho até os ônibus por entre o caminho, passando pelas pessoas em padarias mercados filas de todo tipo, as vozes do herói vão se esvaindo, não sinto mais aquele ar dos guerreiros homens e mulheres de família contra os psicopatas vilões vermelhos apoiadores de ditaduras (mas lá em 2015 foi tão bom ser contra qualquer medida da Dilma, impedir que governasse, ficar rindo das bobagens que ela falava enquanto a mesma, diante do desespero real, sem o menor apoio fosse na casa ou na rua, tentava com Levy na Fazenda e afins evitar o abismo ao mesmo tempo que buscava se defender do impeachment, que então se tornara, junto da prisão do Lula e a extinção do partido, meta principal de qualquer brasileiro honrado, de família), nos grupos de BolsonaroPresidente não rebatem críticas ou denúncias, passam o dia malhando o Toffoli ou qualquer outro ministro canhota e comemorando morte de favelado, inventando histórias de guerrilhas espalhadas na fronteira de sei lá onde, tentam de todas as formas nos alertar sobre a iminência dum ataque venezuelano, mas quanto a realidade reina o silêncio. O Brasil não vai virar Venezuela amém! nem vai virar nada, nem Brasil consegue ser, o governo começou completamente bêbado da campanha, seu ministério nem se entender consegue, cada um fala e faz o que lhe dá na cabeça e o presidente que se dane pra resolver depois, falo não só do laranjinha e companhia como da ministra maluca que entrou no governo pra colocar em pauta as polêmicas do seu grupinho da igreja do Whatsapp, ainda com o bônus dum vice doido pra tirar o vice do nome. O relatório das movimentações estranhas do bolsinho (ainda teve o outro filho dizendo que pra fechar o STF bastam um soldado e um cabo, mas ele estava só brincando, claro, menino levado) ao mesmo tempo que no partido já começam a pingar os primeiros esquemas, e ninguém bate panela, talvez bater panela seja muito forte, mas nem sequer falam, questionam se pode existir alguma verdade em tantas e tais denúncias, pelo contrário, escolhem o mais inacreditável, diminuem os crimes a partir do discurso de que “o PT roubou mais“, o que além de indiretamente assumirem que sim, no novo governo pode haver oportunistas que enxergaram na onda honesta do Bolsonaro a oportunidade perfeita pra acertar algumas dívidas, desde que roubem devagar e com carinho, com o silêncio e as desculpas terminaram vestindo a mesmíssima camisa que enfiaram em tanta gente, a dos defensores de bandidos, e ainda posso concluir, pra seu pior pesadelo, caro bolsorinho, que esta é uma tática tão velha quanto comunista. Lenin dizia:
acuse-os do que você faz, chame-os do que você é“.

13 comentários em “Jovem é preso com cinquenta gramas de petismo no bolso

  1. Dearrot todos os líderes que tu citou cabem na máxima “cegos, guia de cegos, em direção ao mesmo abismo” horror profundo a todos…. o outro nome citado, surpreendentemente (pra mim) ou não, a maior vira-casaca da história recente…..

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  2. da educação de um país, cuja boa parte da população, nem sabe onde fica a Venezuela, sua demografia e ainda acredita que este pais irá invadir o Brasil… muitas cabeças já foram ocupadas por uma total falta de noção…

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  3. pois é, o mesmo ministro que o Olavo (um grande filósofo) disse ser “o homem que mais conhece o pensamento brasileiro no mundo”, estamos vendo como conhece, por enquanto na cabeça do governo um dia normal de aula consiste em todos os professores armados ensinando a cantar o hino e marchar orando, as crianças de pé perfiladas em posição de sentido, toda dúvida é falta de atenção, nada se questiona, criança serve pra decorar e obedecer

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  4. Está piorando. Incrível como eles conseguem piorar o que já é péssimo. Uma vergonha atrás da outra e muitos bolsominions pulando do barco. Alguns quietinhos, quietinhos. De vergonha.
    Bom texto.

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