Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu

Era como um ritual. Cada espirro uma explosão. ATCHIIIIIIIEEEM. Da cozinha, depois dum pulo de dois metros, vinha a voz da mulher, num berro: ISSO, MOSTRA PRA CIDADE INTEIRA O QUE VOCÊ FAZ DE MELHOR. Ele ria. Tirando vez ou outra um prato quebrado uma panela derrubada, ela sabia que tentar matá-lo só o faria … Continue lendo Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu

Fora da verdade, longe do perdão

Bom dia, disse o homem. Silêncio. Oi, bom dia, eu queria, oi, escuta, eu queria uma... brecou as palavras ao perceber a moça do Caixa paralizada, olhar fixo nas nuvens, ao redor uma penca de caixas espalhadas no meio do corredor, atrapalhando a passagem. Embalagens estouradas, chão imundo. Julia sequer notou sua presença. Havia dito … Continue lendo Fora da verdade, longe do perdão

Um tipo de amor que é de comer e cuspir no prato

Céu azul. O primeiro sol da manhã batendo no rosto. Fone no ouvindo. (Prince gritando dentro dele). Cadeirinha de área. Baseado entre os dedos. Vento soprando, fumaça subindo e eu rindo sozinho pensando em Jorge. Que também é Messias, igual a Jesus Cristo. Pois bem. Vou contar a história de Jorge Messias. A prova viva … Continue lendo Um tipo de amor que é de comer e cuspir no prato

A Nicarágua é um poema de Vinicius de Moraes – tão belo quanto triste

"Nas catacumbas pelas tardes, quando há menos trabalho pinto nas paredes das catacumbas a imagem dos Santos dos Santos que morreram matando a fome e pela manhã imito os Santos agora quero falar dos Santos." Filho de agricultor com professora, José Leonel Rugama nasceu em Vale de Matapalos, Estelí, na Nicarágua, em março de mil … Continue lendo A Nicarágua é um poema de Vinicius de Moraes – tão belo quanto triste

Marilyn Manson – histórias que levar ou não pro túmulo não faz a menor diferença

Já me disseram que tenho uma facilidade pra sumir, digamos, encantadora. Adoro ironia. Mas vamos lá, João Gilberto era encantador. Um velhinho de pijama exilado num apartamento tocando violão doze horas por dia. Dando a mínima pro singelo detalhe de ser a principal mente dum movimento que influenciou crianças como Chico e Gil, do qual … Continue lendo Marilyn Manson – histórias que levar ou não pro túmulo não faz a menor diferença

Solidão, que poeira leve

Como dizer que não estou com você quando estamos sorrindo, pior, gargalhando? Como dizer que não quero estar com você mas você não tem nada que ver com isso? Histórias tristes, sempre histórias tristes. Em vez de chorar as pitangas por amigos que eu devia considerar mas não me importo, melhor seria falar do meu … Continue lendo Solidão, que poeira leve

Pequeno tratado das doenças que queremos ter

Estou aqui num campinho perto de casa. Isso mesmo, estou. Não estava nem estarei. Estou. O campo fica grudado numa creche, e recentemente construíram uma pequena arquibancada, uns poucos degraus de cimento. E aqui estamos nós. Um tantinho ali pra esquerda ergueram também um pequeno quartinho. Não tem reboco ainda. Talvez seja um projeto de … Continue lendo Pequeno tratado das doenças que queremos ter

Breve como o tempo

Se Deus não dorme abraçado com Tom Jobim. Por favor, me dê só uma noite, Santo Pai. Uma noite. Num bar. Qualquer bar. Preciso dum trago só. Dois, se não for abuso, e olhá-lo de longe. Me bote ali, num banquinho ao lado do banheiro, perto daquele negócio onde os cavalheiros escarravam. E me traga … Continue lendo Breve como o tempo

Táubua de tiro ao Álvaro

noutro dia mandei uns versos e outras prosas ao poeta Álvaro Alves de Faria, aquele mesmo que vive só e conversa com passarinhos: um dos últimos poetas sobre meus originais disse ter lido todos, poemas crônicas um e outro conto perdido, e aquilo me deu uma raiva danada muitíssimo educado o poeta, disse ter gostado … Continue lendo Táubua de tiro ao Álvaro