Fuma fuma fuma

Não sou de levantar bandeiras, mas se perguntarem devo fumar?, digo deve. Cheirar não aconselho, mas ninguém manda em ninguém, quer ir vai lá. O problema do pó é que ele vai de encontro com o bom e velho cada-um-na-sua-e-todo-mundo-numa-boa. O cara fica na dele e na de todo mundo ao mesmo tempo. Se você dá uma risada, a pessoa, mordendo a testa, pensa que é com ela e já quer te arrancar a cabeça. Se o imbecil te pede qualquer coisa, como buscar uma cerveja ou cigarro, e você nega, é pior que bater na mãe, ele vai tentar te arrancar a cabeça outra vez. Então meu conselho é este: se não está cada um na sua e todo mundo numa boa, tome seu rumo e acenda seu baseadinho noutra praça. Isso sim é um bom conselho: fume mesmo. Escolha qualquer pedaço de mato, uns dois três amigos que saibam dar risada, e fogo. Depois é só tomar água, comer e dormir. Dormir tranquilo. Doente é essa gente toda que não acende um cigarro pra esquecer da vida. Mal sabem que o simples ato de tentar fuga da realidade, um fino um cigarro, um chopp ou vodca, pra uns a cocaína, é o que nos humaniza realmente. É com um cigarrinho entre os dedos que colocamos pra fora todas as nossas fraquezas, medos, o rio de dívidas, as brigas em casa, a vontade de tocar fogo no chefe, o dólar a dez reais et cetera. Trago a trago a fumaça vai levando todos com o vento, não demora eles voltam, o peso da existência, o não dito que entalou na garganta e nem Cristo desenrosca, a vontade pura e simples de não levantar da cama, eles sempre voltam, mas quando voltarem você também estará mais leve, com uns risos a mais na conta e algum espaço pra mais encheção. Preciso insistir nesse ponto: uma roda de pessoas fumando juntas é a cena mais humana que você pode imaginar. São animais admitindo ao ar livre que sim, sofremos todos, mas fazer o quê?, me passe aí esse cigarro e conta um pouco do seu dia.

7 comentários em “Fuma fuma fuma

  1. Me senti como se estivesse fumando enquanto os sofrimentos mariolam ao redor, passando como a brisa espalha a fumaça.
    “Doente é essa gente toda que não acende um cigarro pra esquecer da vida”
    “Mal sabem que o simples ato de tentar fuga da realidade (…), é o que nos humaniza realmente”.
    “… uma roda de pessoas fumando juntas é a cena mais humana que você pode imaginar.”

    Cada um na sua é o fino do rolê coletivo. Isso dá um barato, mesmo. Chamam de “respeito e liberdade”, parece.

    É um enlevo te ler, faz pensar e sentir.
    Aquele abraço, Dearrot.

    E eu detesto cigarro, vai vendo.

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    1. Eu que nunca sei o que e responder. Você fica comentando essas coisas aí deixando a gente sem jeito, daqui a pouco sobe pra cabeça eu começo a me sentir um Neymar por aí socando todo mundo, daí quero ver quem vai dar conta kk muito obrigado mesmo, de coração. e um final de ano daquele jeito, sem ninguém avacalhando. Abração e tamos aí.

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  2. Muito bom mesmo! Você escreve de uma forma muito lúcida, acessível, e como pessoa chegada no cigarrinho e que também corre de raio concordo demais com as reflexões e suas conclusões. Prazer em lê-lo!

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  3. Muitas situações nos libertam das dores de nós mesmos como fumar um cigarro, tomar um copo de whisk, um sorvete, porque as vezes é maravilhoso viver, mas as vezes o peso da existência realmente pesa, engraçado que achei que estava sozinha nessa rs, bom saber que não, ótimo texto para refletir.

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